Psicanálise: da origem ao caso Anna O.
A Psicanálise é, ao mesmo tempo, intrigante e envolvente. Ver os diversos
caminhos pelos quais passou Sigmund Freud, fundador da Psicanálise como um
campo de estudo, que trouxe várias discussões em prol do autoconhecimento
humano e a cura advinda disso, é bastante enriquecedor.
Por meio da
investigação, a psicanálise busca entender o que está além do que é
apresentado, além da fala do paciente, por meio de técnicas clínicas. Para
isso, Freud teve alguns tutores e colaboradores. No tratamento o psicanalista
analisa a situação/história do paciente, por meio de investigação, a fim de
entender as dores do mesmo. Esse psíquico ‘recalcado’, uma vez que venha à
consciência e se torne claro para o paciente, pode levar à cura.
Médico
neurologista, especialista em psiquiatria pela Universidade de Viena (1881),
Freud teve contato com pacientes com problemas nervosos e acreditava que os
tratamentos existentes não eram efetivos. A partir daí, Freud inicia um estágio
em Paris com o neurologista Jean-Martin Charcot, que tinha bons resultados no
uso da hipnose para tratamento de pacientes, considerados histéricos. De volta
à Viena, Freud adota essa mesma abordagem com seus pacientes. Assim, é possível
identificar o que provocou alteração no estado mental do paciente (sintomas) e,
sob efeito da hipnose, o médico auxilia na solução, ou seja, desaparecimento do
sintoma físico.
Ainda
insatisfeito com os resultados dessa técnica, mais tarde Freud se aproxima do
médico Josef Breuer, que reduzia os sintomas nos pacientes apenas questionando
sobre suas fantasias e alucinações, tendo a hipnose com um facilitador de
acesso às memórias traumáticas, possibilitando eliminar o sintoma. A primeira
paciente tratada com sucesso por essa técnica, foi Anna O. e o tratamento foi
chamado de método catártico ou associação livre.
Com a evolução
do método, Freud passou a dar mais importância aos eventos acontecidos com o
paciente na infância, mais especificamente com a sexualidade na infância e,
isso gerou desacordo entre Freud e Breuer, que acabaram por se separar e seguir
técnicas distintas. Freud segue desenvolvendo, na psicanálise, a investigação
com o uso da hipnose, concentração e entrevista, permitindo que o paciente
relembrasse os acontecimentos geradores do sintoma e falasse sobre eles. Freud
percebe que mesmo sem hipnose, por meio da insistência, poderia ajudar seus
pacientes a se lembrarem do gatilho gerador do sintoma, alcançando a cura. Mais tarde testou a técnica de pressão, não
muito aceita pelos pacientes, passando para a associação livre.
Na associação
livre o paciente traz para a sessão suas lembranças, inquietações, dores, de
forma livre, sem julgamentos e o psicanalista ouve, faz a entrevista
investigadora buscando criar ligação entre a fala do paciente e o seu
inconsciente, as informações que ele sequer conseguiu trazer para a sessão. Voltando
à paciente de Breuer, Anna O. – caso clínico publicado em 1895, a primeira
tentativa foi de utilização de hipnose no tratamento. Posteriormente Freud se
uniu a Breuer nesse caso e acessou o inconsciente da paciente por meio do
método catártico e por meio da fala livre, de tudo o que viesse à mente, assim Anna
eliminou afetos patogênicos e ab-reagiu, revivendo os acontecimentos que
geraram tais afetos. Por meio da fala esses afetos foram eliminados e essa foi
a primeira vez na história em que a loucura teve voz, em que a histeria não foi
vista como uma questão de espiritualidade. Naquela época acreditava-se que as
mulheres que apresentavam histeria apenas queriam chamar a atenção, mas Breuer
e Freud acreditavam que estavam, de fato, eram histéricas, estavam doentes e precisavam
de cura, ser ouvidas e, graças a eles, Anna O. foi tratada e conseguiu se ver
livre da histeria.
Por meio da
livre associação, enquanto o paciente fala o que lhe vem à mente, acaba
entrando em contato com conteúdos inconscientes, passando a ter oportunidade de
ab-reagir. Por meio da fala o paciente e psicanalista encontram uma válvula de
escape para o “afeto estrangulado”, consegue colocar para fora, o que gera
cura. A ressignificação desse afeto é que possibilita a cura, já que se a
reação é reprimida, o afeto fica vinculado à lembrança que gerou a histeria. E
essa reação pode ser um tipo de reflexo voluntário, desde lágrimas, raiva e até
vingança. Se essa reação realmente flui intensamente, aquele afeto estrangulado
desaparece e o paciente consegue verbalizar seus sentimentos, daí a linguagem
substitui a ação e o afeto pode ser ab-reagido e ressignificado. Pela fala o
paciente acessa os sentimentos que geraram os sintomas de histeria, porque
passa a compreender a memória e tem condições de deixar essa memória no
passado, deixa de revivê-la repetidas vezes no presente.
No caso Anna
O., a paciente contribuiu bastante para o tratamento, por isso tornou-se um case dentro da Psicanálise. Pelo sucesso
no tratamento de Anna, com a expressão dos sentimentos pela utilização da fala
sem interrupções ou perguntas, isso se tornou um novo método na psicanálise.
Como Freud observou, alguns pacientes não eram hipnotizáveis, por isso a fala
tornou-se um método eficaz. Assim, a hipnose no tratamento foi ficando de lado,
dando lugar à associação livre, regra fundamental da psicanálise.
Comentários
Postar um comentário