Resistência e Transferência em Psicanálise

 Um pouquinho sobre a relevância de Freud - Tribuna de Ituverava

No dicionário, resistência é um substantivo feminino que significa: ação ou efeito de resistir, de não ceder nem sucumbir, aptidão para suportar dificuldades (fadiga, fome, esforço), qualidade de um corpo que reage contra a ação de outro corpo, defesa contra um ataque, recusa de submissão à vontade de outrem, oposição, reação. Com base em tudo o que conhecemos por resistência, esse seria, à primeira vista, um grande problema no processo psicanalítico. No entanto, as resistências em psicanálise são importantes, porque levam à análise e essa análise da resistência vai mostrar como o ego é influenciado pelo id, pelo superego e pelo mundo externo ao paciente.

A atitude defensiva provocada pelo ego inconsciente, o medo da mudança, superego irracional, transferência hostil, romântica ou sexual, impulsos sádicos e masoquistas, impulsividade e ganhos secundários da neurose são algumas das forças que atuam no paciente e fazem resistência durante o processo psicanalítico, são forças que o próprio processo desperta no paciente.

Diante de tudo isso, o analista precisa ouvir o paciente com uma atenção não-seletiva, de forma a identificar os antecedentes inconscientes do que o paciente traz em sua fala e modo de agir, depois deve sintetizar esses elementos inconscientes para, então, comunicar ao paciente as informações que possam ser construtivas durante o tratamento. Que haverá resistência durante o processo psicanalítico, é fato, no entanto, uma vez identificada a resistência, o analista deve confrontar o paciente, a fim de despertar nele a consciência da existência da resistência, a que está resistindo e como o faz. Mas antes dessa confrontação, faz-se necessário avaliar o estado do ego racional do paciente, identificar até que ponto ele está preparado para aceitar a resistência, para tornar consciente o fato de estar resistindo ao tratamento. Caso a resistência não faça sentido para o paciente, ela não será superada.

Assim, é necessário conduzir o paciente à análise de porquê, o que e como está resistindo. É notório que o paciente está resistindo para fugir de lembranças dolorosas, ansiedade, culpa, vergonha, depressão, etc. e isso se manifesta no corpo físico dele ao ser confrontado, por meio de reações corpóreas não verbais. Cabe ao analista esclarecer o afeto que provoca a resistência quando ela surge na análise, qual conteúdo doloroso provocou o afeto doloroso que desencadeou a resistência. Porque a resistência nada mais é, do que a repetição de fatos que aconteceram antes na vida do paciente, são edições novas de situações antigas, de fatos ocorridos. A resistência sempre será uma repetição. Por isso em psicanálise as resistências são positivas e necessárias, para identificação do fato causador da dor e a cura da mesma.

A transferência, por sua vez, é o processo pelo qual os desejos inconscientes vêm à tona, direcionados a um novo objeto, é o deslocamento do afeto de uma representação parental infantil, para outra (aqui, o analista). É, também, uma repetição de protótipos infantis, assim com a resistência. Para Freud, a transferência refere-se aos sentimentos inconscientes do paciente em relação ao analista, é a busca pela gratificação dose desejos infantis inconscientes por meio do analista. É um vínculo intenso e automático entre paciente e analista, constitui a relação entre eles no processo psicanalítico. O tratamento psicoterápico não cria a transferência, mas a evidencia, traz a transferência à consciência, assim ela se torna o maior aliado do processo.

Toda transferência se baseia em três parâmetros: realidade x fantasia, consciente x inconsciente e presente x passado. Toda transferência é passível de análise nesses três âmbitos. Por isso a transferência é frequente em todo processo psicoterápico, no passado pressupõe o recalque de um desejo e no presente a relação com o terapeuta desperta esse mesmo afeto, o que faz com que a transferência seja uma falsa conexão que só pode ser superada com a conscientização do paciente acerca da existência da transferência.

Enquanto o paciente enamora-se do analista nesse processo de transferência, cabe ao analista prevenir-se de uma transferência recíproca, visto que o amor transferido do paciente, não é amor legítimo. Trata-se da manifestação de suas dores infantis, relacionadas com pai, mãe, irmão, etc. que são a causa da análise.

A transferência surge na forma de resistência e, aqui, esses dois fenômenos que tanto aparecem no processo psicoterápico, se cruzam. A transferência para o analista se dá no momento exato em que conteúdos recalcados começam a surgir, a ser revelados. Na visão de Freud, embora os fenômenos de transferência tragam dificuldades para o analista, são as transferências que apontam para as lembranças dolorosas escondidas há tempos.

Mas deve-se levar em consideração que existem transferências positivas e negativas, ambas devem ser trabalhadas no processo de cura. Já que o paciente não se lembra do conteúdo recalcado, ele precisa revivê-lo por meio de repetição no presente.

A transferência positiva são sentimentos amigáveis, que parecem ter fundamento erótico. Ela permite que o paciente fale com maior facilidade de situações difíceis de serem abordadas. As negativas baseiam-se em agressividade com relação ao analista. Independentemente do tipo, tanto as análises do ódio transferencial, quanto do amor transferencial, são igualmente importantes no processo de análise do paciente. Portanto, é importante ter em mente que toda transferência é constituída de elementos positivos e negativos, simultaneamente, podendo ser positiva, negativa ou ambivalente.


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