Uma visão psicanalítica da neurose, psicose e perversão

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Em 1787 surgiu o termo neurose, para indicar desordens no sistema nervoso. Atualmente a psicologia trata a psiconeurose como sendo um transtorno mental que não interfere na capacidade racional da pessoa, sendo a psicose uma desordem mais severa.

Sabe-se, no entanto, que as neuroses são quadros patológicos psicogênicos, de origem externa ao indivíduo em muitos casos e que provocam transtornos mentais, físicos e/ou da personalidade. Para a psicanálise as neuroses são o resultado frustrado de tentar lidar com conflitos e traumas, mesmo que o indivíduo sequer tenha consciência disso. A neurose provoca comportamentos intensos e causa incapacidade de lidar com os próprios conflitos. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), de 1994, o termo neurose foi substituído por transtornos neuróticos e se estende a diversos grupos de transtornos mentais, tais como: transtornos fóbicos-ansiosos e outros transtornos de ansiedade; transtorno obsessivo-compulsivo – TOC; transtorno dissociativo; transtornos somatoformes; distimia e alguns tipos de depressão; e neurastenia.

                A psicose, reconhecida pela psiquiatria, psicologia e psicanálise, como um estado psíquico de perda de contato com a realidade, é um quadro psicopatológico clássico. Embora exista variações em cada paciente, podem ocorrer alucinações, delírios, pensamento desorganizado ou paranoide, inquietude psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão e insônia. A pessoa que sofre de psicose não consegue perceber o quão estranho e, até mesmo, bizarro, pode chegar a ser o seu comportamento, visto perder o senso crítico ao ser acometida por essa psicopatologia.

                As principais características clínicas da psicose é que são psicologicamente incompreensíveis; apresentam vivências bizarras (delírios, alucinações, alteração da consciência do Eu); no entanto não existem alterações de memória e nível de consciência. Para a psicanálise, a psicose tem origem em uma rejeição primordial, na expulsão de ideias ou pensamentos próprios, que passam a ser tidos como pensamentos de outros, de terceiros ou que sequer tenham acontecido. Essa rejeição pode causar a divisão do Eu em duas partes, a reconhecida e a não reconhecida como sendo do indivíduo. Essa divisão é a esquizofrenia. A paranoia seria a parte não reconhecida em si mesmo ser achada no outro, por meio da projeção. É importante salientar que a psicose tem diferentes tratativas nos campos da saúde, religião, poesia e ciências humanas. Cada qual, tem sua visão e análise da psicose, como loucura, psicopatologia, dentre outras.

Desde o século XIX a psiquiatria define a psicose como doença mental. Para o pai da psicanálise, Freud, a psicose resulta do conflito do Eu com o mundo externo. O Eu é derrotado pelo Id e afastado da realidade. Assim a psicose seria analisada em duas partes, sendo a primeira etapa a do afastamento do Eu da realidade externa e, a segunda etapa, a reconciliação com a realidade. Para Freud, a psicose pode ser de dois tipos distintos: a paranoia e a esquizofrenia. Para Lacan “um psicótico não deixa de ser psicótico e um neurótico não deixa de ser neurótico”, mas o psicanalista pode auxiliar o paciente, por meio da escuta, minimizando o isolamento que ocorre na psicose. É interessante a forma como agem neurótico e psicótico. Enquanto o neurótico guarda segredos, o psicótico os revela. Enquanto o neurótico é cheio de dúvidas, o psicótico tem certezas, teorias das quais não abre mão.

Ainda na linha das patologias, diferente da neurose e da psicose, aparece a perversão, que é o desvio de comportamento dentro de um grupo social, perversão de conceitos morais. O termo também se refere à perversão ou desvio sexual, traduzido em atos como sadismo, masoquismo, pedofilia, exibicionismo, voyeurismo, dentre outras perversões e parafilias. Para a psicanálise é perversa a pessoa que tem um funcionamento psíquico baseado em uma estrutura perversa, desvio da conduta sexual que não visa a genitalidade, não busca o prazer no coito. Por isso, até mesmo a criança que se autossatisfaz sexualmente é considerada perversa, no ponto de vista psicanalítico. Assim, a patologia neurótica recalca o desejo no Complexo de Édipo, desencadeando a conversão histérica. Já a patologia perversa recusa a castração Edipiana e gera a escolha homossexual de um objeto, seja o próprio indivíduo ou outra pessoa do mesmo sexo ou sexo oposto.

Temos que a patologia neurótica se caracteriza pelo recalque do desejo durante o Complexo de Édipo, gerando somatização histérica. A patologia psicótica rejeita a realidade social e do Complexo de Édipo, gerando uma visão de mundo particular e isolada. A patologia perversa tem a recusa da Castração Edipiana, do qual se isola. A psicopatia é, por sua vez, uma das manifestações mais extremas da personalidade perversa e os comportamentos que mais a descrevem são: excessivo egocentrismo; incapacidade de amar o outro; falta de remorso; vergonha/culpa; tendência à mentira e falsidade; visa sexual impessoal e sem envolvimento real; a pessoa é envolvente, porém superficial; tem boa capacidade de retórica e sedução; tem inclinação ao vitimismo; embora possua boa capacidade cognitiva, é descomprometida com a realidade.

Para fechar, temos que o perverso se move pela inveja, pelos desejos dos outros, pelo que os outros conquistaram ou possuem. Isso, porque os desejos dele mesmo, recalcados, lhe causam perturbação e infelicidade.


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