Donald Woods Winnicott (1896 -1971), médico pediatra inglês que inovou as teorias psicanalíticas na relação entre a mãe e a criança.
Terceiro filho de um pai comerciante trabalhou como pediatra no Padington Green Children’s Hospital durante 40 anos. Casou-se com uma assistente social chamada Claire que se tornou também psicanalista.
Teve dois psicanalistas, James Strachey por cerca de 10 anos e Joan Riviere (de 1933 a 1941) e fez supervisão com Melanie Klein entre 1934 a 1941. Zangou-se com esta porque está exigiu-lhe que analisasse o seu filho. Como recusou, pôs fim ao relacionamento profissional.
O seu trabalho como psicanalista traduz-se em conceitos tais como o de transicionalidade, mãe suficientemente boa, falso self ou jogo de espátula ou garatuja. Interessava-se pela subjetividade do eu e pela dependência do indivíduo em relação ao ambiente. Redefiniu psicose e também clarificou questões dos estados Limite.
Tem uma frase célebre: o bebe não existe, que possibilita compreender, em parte, as suas concetualizações, uma vez que esta frase significa que o bebê nunca existe por si só, mas sempre e fundamentalmente é parte integrante de uma relação.
O assento colocado no afeto e no calor humano da relação levou Winnicott a seguir o pensamento de Sandor Ferenczi (1873-1933), entrando em contradição com os padrões da IPA, Internacional Psychoanalytical Association não respeitando a duração das sessões, a neutralidade ou o afastamento físico. Das suas obras mais importantes destacam-se: Da Pediatria à Psicanálise (1958); O Ambiente e os Processos de Maturação, (1965), Consultas Terapêuticas em Psiquiatria Infantil, (1971); Relato do Tratamento de uma Menina, (1977); Os bebês e as Mães, (1987).
Winnicott estudava a afetividade, onde ele considerava que cada ser humano traz um potencial inato que necessita ser amadurecido, ele via três espaços dentro dessa afetividade: o interno, externo e transicional, onde nesta perspectiva ele considerava todas as particularidades do cuidado materno que advêm depois do nascimento. Isto é, toda a dependência do indivíduo pela mãe que convergem para a composição do ambiente de Holding, onde entra o self que seria o eu próprio de cada um.
Winnicott mostrava a importância da afetividade e do cuidado materno para o
desenvolvimento da criança, um tema bastante importante para auxiliar nos
estímulos e na aprendizagem. Para ele cada ser humano traz um potencial inato
para se integrar e desenvolver o seu amadurecer, mas nem sempre essa tendência
inata possa ocorrer, pois ela depende de um ambiente facilitador que é
representado pela mãe “suficientemente boa”. Essa mãe é responsável pelo
desenvolvimento e amadurecimento do bebê, tratando dos cuidados básicos da
amamentação e as necessidades fisiológicas e até da saúde emocional e afetiva
desse indivíduo. Essa mãe suficientemente boa pode ser representada por até um
profissional da escola, que passa um grande período com a criança. Uma mãe
Flexível o suficiente para acompanhar as necessidades de seu filho, no seu
amadurecimento e autonomia, suprindo todas as necessidades dessa criança.
·
A mãe é necessária como pessoa viva: O bebê precisa sentir a presença da mãe,
sentir o calor da sua pele, da sua respiração, nem a melhor técnica de cuidado
materno servirá para substituir o contato com o corpo vivo da mãe. Daí a
importância da vivacidade da mãe e sua presença física para fornecer um
ambiente psicológico e emocional essencial para os primeiros tempos da evolução
emocional do seu bebê.
·
A mãe é necessária para apresentar o mundo ao bebê: Para o autor, a pessoa que
assiste o bebê proporciona-lhe a apresentação da realidade externa, o mundo em
seu redor. No começo, o bebê depende de alguém para ser introduzido na
existência humana. Como no caso de um bebê que nunca tivesse sido amamentado e
sente a fome surgir, a mãe, nesse momento, coloca o seio onde o bebê está
pronto para esperar e ele mama à vontade, até saciar-se. A partir dessa
experiência, o bebê “cria” justamente o que existe para encontrar, ou seja,
forma a ilusão de que esse seio real é exatamente a coisa que foi criada pela
necessidade. A partir desse momento desenvolve-se uma convicção de que o mundo
pode conter o que é querido e preciso, resultando na esperança que existe uma
relação viva entre a realidade interior e realidade exterior, entre a
capacidade criadora, e inata e primária, e o mundo em geral que é compartilhado
por todos. Portanto, cabe à mãe apenas permitir a possibilidade de criação da
ilusão, isto é, o bebê é levado a criar e recriar quantas vezes forem
necessárias o seio da mãe.
·
A mãe é necessária na tarefa materna de desilusionamento: Segundo o autor, após
a mãe ter dado ao seu bebê a ilusão de que o mundo pode ser criado a partir da
necessidade e da imaginação, terá então de levá-lo ao desilusionamento, ato
esse que constitui um aspecto mais extenso do desmame. Verifica-se, pois, que
aos poucos a mãe ajuda a criança a aceitar que, embora o mundo possa fornecer
algo parecido com o que é preciso e procurado e que pode, portanto, ser criado,
não o fará automaticamente nem no momento exato em que a disposição surge ou o
desejo é sentido. Isto implica que lentamente a mãe deixa de ser conduzida
pelos movimentos da criança, mas isso somente será bem-sucedido se, primeiro, a
mãe tiver significado tudo para a criança.
Winnicott conclui que a
maturidade individual implica movimento em direção à independência, mas não
existe essa coisa chamada “independência”. Seria nocivo para a saúde o fato de
um indivíduo ficar isolado a ponto de se sentir independente e invulnerável. Se
essa pessoa está viva, sem dúvida há dependência! (Winnicott 1971f, p.3).
Texto extraído material Especialização em Teoria Psicanalítica - FARESE
Imagem: internet
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